08 maio, 2013

A noite que minha mãe quase morre de vergonha com a sardinha de meu pai


Meu pai era um sujeito sem frescuras e desprovido de quase todos os pudores do mundo. Era um cara que preferia levar a vida na "esportiva" – tão na esportiva que as vezes isso tudo beirava a maluquice. E é uma de suas inúmeras "maluquices" que hoje quero compartilhar com vocês.

Pra inicio de conversa, preciso que vocês saibam algo sobre meus pais. Devo esclarecer que o velho(já falecido) era o coroa mais espirito jovial que conheci na vida. Marujo velho, Seu Roberto trazia muita malandragem na sua bagagem de cidadão do mundo – Eh, o velho viajou quase todo o globo terrestre antes de se aposentar na Marinha. Admirador clássico da boa cerveja, era um tremendo BON VIVANT.

Dona Zezilda, a minha mãe, é terrivelmente – e quem a conhece sabe – o oposto do velho. Filha de Dona Moça, excelente dona de casa, boa esposa, boa mãe e etc e etc e tal. Mas nunca foi de farra, e não é, ainda hoje. Além disso, a timidez é impressa explicitamente em suas feições. "Arranque-me as entranhas, mas não me faça passar vergonha" – esse provavelmente era seu lema.

1º ATO

Não é difícil imaginar as incontáveis vezes que o velho tentou convence-la de dar uma saidinha, curtir um barzinho, beliscar uns apetitosos petiscos e, é claro, saborear uma infalível e prazerosa "cervejinha", que era como ele apelidava quase que paternalmente a bebida.

E um belo dia, ou seja, uma bela noite, quase que com técnicas de convencimento tão eficazes quanto as do Edir Macedo, ele conseguiu fazer ela aceitar uma escapulida até um barzinho bastante frequentado no bairro de São Caetano, ao lado da loja de uma grande rede de supermercados em Salvador.

O barzinho funciona a noite onde toda essa área lateral direita do mercado é literalmente tomada por mesas e cadeiras e artistas de caraoquê.

Na época eu era uma criança, de mais ou menos uns 12 anos, e o velho era um cara "descolado", e por isso teve a brilhante ideia –"Vamos levar Jel com a gente!". NÃÃÃÃÃÃÃÃO, berrou  sinfonicamente meu eu interior.

Quando criança, a minha vibe era video game, quadrinhos, hamburgueres, televisão e hamburgueres ( nunca comia apenas um). Tudo que fugisse dessa confortável rotina nerd era automaticamente avaliado pelos meus neurônios como uma hostil ameaça a minha sobrevivência. Mas eles preferiam não me deixar em casa sozinho, então…

Ok, todos prontos, vamos embarcar no carro em direção a nossa aventura botequeira – disse o velho já um pouco "alto" por ter começado a degustação alcoólica já em casa, antes de sair. Entrei no carro, todo conformado, assentei-me no banco de traz e em seguida, minha mãe, meio que prevendo algo muito constrangedor aguardando por ela naquela noite, entrou também, e assentou-se no banco da frente. Todos à bordo!? – Gritou marotamente o velho marujo, afim de se divertir de montão.

2º ATO

Já no destino, lá vamos nós procurar uma mesa. Claro, minha mãe, olhando para as beiradas, e para as localizadas mais discretamente possível, e já estava quase achando uma quando repentinamente… –ÊÊÊI, ZELDINHA! AQUÊÓ! VEM, ACHEI UMA MESA!!! Gritava a todo pulmão o meu velho, no centro nervoso do bar. Sim, literalmente na espinha dorsal do inferninho no ambiente, o lugar em que todos os tipos de seres tímidos como minha mãe, pagam por todos os seus pecados, e ainda recebem troco em barras de ouro – que valem mais do que dinheiro.

Pronto! Ali estava solidamente instalado o centro de operações envergonhológicas que em breve faria minha mãe quase urinar pelos sovacos de tanto vexame-alheio que sofreria. Daí até o velho pedir uma BIA (era como ele falava BIER no melhor estilo Borat, apesar de saber falar inglês) se passaram meio segundo. –Êi boy! uma Brahma por favor, e uma coca-cola pro meu garoto!.


3º ATO

Já umas Brahmas e algumas coca-colas depois, o velho já estava mais pra fora do que pra dentro. Falava alto, cantava junto com as pessoas "da vez" no caraoquê, já chamava-a embriagadamente carinhosamente de minha flor, e outras coisas que só faziam dona Zezilda se questionar do porque de ter se casado com um sujeito tão cara-de-pau e espótico como esse. E de tempo em tempo ela repetia: "Vamos… já está ficando tarde e amanha Jel (olá!) tem de ir pra escola cedo!". Mas Seu Roberto a essas alturas, já fazia inveja até aos mais desembaraçados palestrantes de beirada de balcão. Conversando até pelos cotovelos.

–Minha flôr! Já pedi uns petiscos e já já nós vamo! Prometeu pra minha mãe, que invariavelmente ensaiava fugas ninja da mesa em direção ao carro. Por conhecer muito bem a minha mãe, eu sabia que se ela fosse cearense, nem o padim padre Cicero a faria ficar naquele antro de vergonha particular por mais que 1/4 de hora. Enquanto isso, os benditos petiscos já estavam atrasados bem uns 30 ou 40 minutos! Sério. Parecia que o garçom não tinha esquecido do pedido, mas que estava possuído por espíritos zombeteiros das colinas, e queria mesmo era ver minha pobre mãe se encolher mais e mais a cada declaração de amor dispensada por meu velho, que se divertia às custas do efeito desinibidor da cerveja. Mas o pior ainda estava por vir… E VEIO SEM DEMORA…

LE GRAND FINALE

Quando o velho percebeu que a porra do petisco só chegaria na mesa depois da época em que ele afirmava que ainda estaria "masculinamente potente" (que era aos 100 anos), ele ativou o modo REVOLTA BÊBADA VEXATÓRIA EXTREMA LEVEL 10.9:

–PUTA QUE ME PARIU!!! –Cadê os petiscos que nós pedimos??? –Ôrrrrra (com vibração da garganta e tudo), tenha a santa paciência!!! Claro que isso atraiu os olhares de todas as vivas almas que se encontravam no recinto, até dos cães que perambulavam pela rua, e paravam para sentar-se confortavelmente com os joelhinhos flexionados e pra cima, para também assistir ao show. E minha mãe? Tava quase que entrando na garrafa vazia de Brahma pra ninguém notar que ela fazia parte do mesmo ecossistema do cara que tava "alegrando" o bar.

Subitamente, o velho calou-se, deu uma risadinha malandra, tacou a mão no bolso, e com precisão pistoleira, sacou de lá (acreditem) dois objetos que assassinariam de uma vez por todas qualquer chance de minha mãe permanecer naquela situação de pré-infarto: UMA SOLITÁRIA LATA DE SARDINHAS EM CONSERVA E UM ABRIDOR DE LATAS!!! "Booooomm"… uma explosão, seguida de uma densa cortina de fumaça branca fizeram minha mãe desaparecer velozmente da mesa como uma diarreia liquida, e aparecer espantosamente dentro do carro! Claro, acho que esse ultimo paragrafo eu fantasiei na minha mente de garoto com 12 anos. Mas juro que minha mãe saiu tão rapidamente do lugar que parecia ter congelado o espaço-tempo e se deslocado neste intervalo sem que ninguém a visse! E nunca mais dona Zezilda foi vista naquele lugar.


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